Como é a injeção semestral contra HIV recomendada pela OMS; 96% de eficácia

Depois que a OMS recomendou a injeção semestral para prevenção do HIV, pessoas começaram a se perguntar como é esse tratamento. E o SNB esclarece.
O lenacapavir é um medicamento aprovado no mês passado pela FDA, a Anvisa dos EUA, para prevenção do HIV, como ferramenta nas estratégias de combate à infecção pelo vírus, especialmente para os grupos mais vulneráveis e em regiões onde a carga do HIV ainda é alta.
Ele é a primeira PrEP injetável e está sendo considerada uma alternativa altamente eficaz e de ação prolongada para o combate ao vírus. Em ensaios clínicos, teve 96% de eficácia na prevenção contra a doença.
A recomendação
A recomendação global para uso da injeção semestral foi anunciada esta semana, durante a Conferência Internacional de AIDS, realizada em Kigali, Ruanda, informou a CNN.
O medicamento já havia sido aprovado em 2022 para o tratamento de infecções específicas por HIV e, em estudos voltados à prevenção, demonstrou reduzir drasticamente o risco de infecção, oferecendo proteção quase total contra o vírus.
“A primeira recomendação é que o lenacapavir, uma injeção de ação prolongada, seja oferecido como mais uma opção de prevenção para pessoas em risco de HIV, como parte de uma estratégia combinada de prevenção. Trata-se de uma recomendação forte, com nível moderado a alto de certeza nas evidências”, explicou Doherty.
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Outra recomendação
A segunda diretriz recomenda o uso de testes rápidos, como os testes caseiros, para triagem de HIV no início, durante ou ao interromper o uso de medicamentos de prevenção de longa duração, conhecidos como profilaxia pré-exposição (PrEP).
“Essas novas recomendações foram pensadas para aplicação no mundo real. A OMS está trabalhando de forma próxima com os países e parceiros para apoiar a implementação”, afirmou a Dra. Meg Doherty, diretora do Departamento de Programas Globais de HIV, Hepatites e Infecções Sexualmente Transmissíveis da OMS, durante uma coletiva de imprensa.
Novas mortes
Um relatório da ONU divulgado na quinta-feira (11) alerta que milhões de pessoas podem morrer por causas relacionadas ao HIV até 2029 caso o financiamento dos programas desapareça de forma permanente.
Entre os 60 países de baixa e média renda analisados, 25 indicaram que pretendem aumentar seus orçamentos nacionais para a resposta ao HIV no ano seguinte. Mas, segundo o relatório, isso pode não ser suficiente para compensar a perda da ajuda internacional da qual esses países ainda dependem fortemente.
O HIV é transmitido principalmente por meio de relações sexuais sem proteção ou pelo compartilhamento de agulhas. O vírus ataca o sistema imunológico e, sem tratamento, pode evoluir para a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Segundo a OMS, cerca de 40 milhões de pessoas viviam com HIV no mundo até o fim de 2023.
Opção de prevenção
A injeção semestral de lenacapavir, também chamada de LEN, surge como uma nova opção na “caixa de ferramentas” da prevenção, não apenas para os EUA, mas para o mundo todo, segundo a OMS.
“O LEN é uma opção injetável a cada seis meses e pode ser especialmente atraente para pessoas que preferem menos visitas à clínica ou que enfrentam dificuldades com a PrEP oral diária. […] Ele pode melhorar a adesão e alcançar mais pessoas que precisam de prevenção contra o HIV, inclusive grávidas e lactantes”, disse Doherty.
A diretora informou ainda que a OMS está oferecendo assistência técnica a países interessados em adotar o LEN e estratégias de testagem simplificadas, em coordenação com parceiros globais como o Fundo Global, o UNAIDS e outras organizações e financiadores.
“Apelamos para que governos, financiadores, gestores e a sociedade civil trabalhem juntos para implementar e integrar o LEN aos programas de HIV. Acreditamos que o momento de agir é agora”, afirmou.
Trump prejudicou o fornecimento
O enfraquecimento do financiamento para ações globais de prevenção ao HIV preocupa.
Segundo a ONU, 80% dos programas de prevenção nos países de baixa e média renda dependem de assistência internacional. Nos últimos seis meses, porém, os Estados Unidos reduziram de forma significativa o financiamento de parte dessa ajuda externa.
A administração Trump desmantelou a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e reduziu o financiamento ao PEPFAR — o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS —, que representa o maior compromisso já feito por um país no combate a uma única doença.
Segundo Mahy, alguns países já estão enfrentando os efeitos da redução dos recursos. Na Nigéria, centros de saúde relataram que cerca de 40 mil pessoas receberam PrEP ao menos uma vez no fim de 2024. Esse número caiu para menos de 7 mil em abril de 2025, conforme dados do UNAIDS.
Tendência semelhante foi observada no Quênia, onde houve queda no número de mulheres vivendo com HIV que deram à luz recentemente e receberam medicamentos para reduzir o risco de transmissão ao bebê. Cerca de 3 mil mulheres haviam recebido os medicamentos e quase 900 iniciaram o tratamento em outubro de 2024. Em abril, esses números caíram para aproximadamente 300 em acompanhamento e apenas 100 começando o uso dos medicamentos.
“Não se trata apenas de uma lacuna de financiamento — é uma bomba-relógio. […] Vimos serviços desaparecerem de um dia para o outro. Profissionais de saúde foram dispensados. E pessoas — especialmente crianças e populações-chave — estão sendo deixadas de lado”, alertou Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS, em comunicado.
Farmacêutica vai fornecer
A farmacêutica Gilead Sciences, fabricante do lenacapavir, anunciou na semana passada que firmou um acordo com o Fundo Global para fornecer o medicamento para prevenção do HIV sem fins lucrativos.
Pelo acordo, o preço do lenacapavir refletirá apenas os custos de produção e distribuição.
“Estamos fornecendo o medicamento sem lucro para a Gilead e em quantidade suficiente para alcançar até dois milhões de pessoas em países de baixa e média renda antes que versões genéricas do lenacapavir estejam disponíveis”, afirmou o presidente da empresa, Daniel O’Day, em comunicado. O valor exato do medicamento, no entanto, permanece confidencial.
Nos EUA, até o momento o único país a aprovar o lenacapavir para prevenção, o preço de tabela anual do medicamento é de US$ 28.218. Segundo a Gilead, esse valor é semelhante ao de outras opções de prevenção disponíveis.
O lenacapavir pode “mudar fundamentalmente a trajetória da epidemia de HIV”, mas isso só será possível se chegar a quem mais precisa, afirmou Peter Sands, diretor executivo do Fundo Global.
